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E afinal, o que aconteceu?

Bem, no último post, falei um pouco sobre os protestos que ocorreriam no fim de semana de semana, e antes de escrever um pouco mais sobre a sociedade malasiana, resolvi atualizar a questão anterior.

Alguns dias antes dos protestos, o rei pediu que o assunto fosse levado com cautela para não prejudicar a sociedade e a imagem do país. E o que me impressionou foi que a oposição ouviu e resolveu cancelar o protesto na rua, após a sugestão do primeiro ministro de emprestar um estádio e a comoção ser movida para lá.

Pois, como não é só brasileiro que tem “jeitinho”, o governo negou o tal acesso ao estádio. E por que? Porque ele disse que emprestaria UM estádio, não qualquer estádio, e como era de se esperar, o estádio escolhido seria algum dentro da capital, Kuala Lumpur. E daí a coisa virou bagunça de novo.

A oposição falou que como o governo foi contra o acordo perante o rei, eles seguiram com o protesto nas ruas de qualquer jeito. O governo, criticando a oposição por não procurar algum estádio fora da cidade (isso porque a utilização ainda depende de aprovação da gerência dos estádios, que na maioria pertence a quem? O governo!!!) e desobecer ordens do rei (o tal só vem a calhar nesses momentos, né!?) falou que usaria todos os métodos para conter a ação. E foi assim que assisti a primeira “revolta” da minha vida.

Sexta-feira pela manhã o caos já começava: o governo listou 91 pessoas que estavam proibidas (isso mesmo!) de entrar na região de Kuala Lumpur durante o sábado. E depois resolveu prejudicar a vida de todo mundo:  fechou, por quase 24 horas, TODAS as rodoviárias dentro da cidade. Nenhum ônibus entraria da meia-noite até às 10 da noite de sábado. Ainda fez mais: colocou bloqueios em TODAS as vias de entrada da cidade. Teoricamente seria no mesmo horário do bloqueio dos ônibus, mas quem tentou sair pela cidade já às 10 da noite de sexta, enfrentou filas e bloqueios. Acho que foi muito? Pois bem, eles cancelaram durante todo o sábado, paradas em estações de trem e metrô (e monotrilho) que viessem das cidades nos arredores e durante o dia, foram fechando estações que atrairam protestantes na região.

Sábado acordou como qualquer outro dia em meu apartamento. Resolvemos ir almoçar perto de casa, mas logo nosso amigo, que morava já no limite de KL, avisou que não conseguiria chegar a cidade. Mudamos de planos e fomos almoçar em um restaurante que pudessemos ir a pé.  Após o almoço, fomos a um shopping center, e a única coisa que notamos era o deserto que estava. Sem empurra-empurra e milhões de carros buzinando. Na volta para casa, notamos algo diferente, havia bloqueios aparentemente recém-abertos perto de casa e  muitos policiais e uma das vias fechadas, em frente a estação central da cidade. Passamos a ouvir helicópteros passarem mais frequentemente e quando chegamos ao apartamento, o namorado, que havia ficado pra trás, nos contou que protestantes chegaram a nossa região e foi uma bagunça. Gás lacrimejante foi atirado e a polícia correndo atrás de protestantes para prendê-los.

Da janela da sala, pude ver os tanques de água passarem pela avenida bloqueada e pelos menos 5 mini-caminhões carregando inúmeros protestantes presos. Os números oficiais dizem que 1.667 pessoas foram presas e durante o dia, passamos a acompanhar os sites de notícias locais e de nossos países, para ver a repercussão. Fiquei feliz em saber que houve cobertura, apesar de pouco relevante, se comparada com outros lugares.

Não estive no meio de nenhuma aglomeração, mas o que pude ver nas inúmeras imagens e vídeos que assisti foi que a maioria dos protestantes se manteve pacifíca, ao contrário da polícia malaia, que não poupou esforços. E a vergonha nacional fica por conta de quem, senhor Najib?

Dois dias após, leio comentários de ambos os lados falando que sairam vitoriosos. Mas claro, que os comentários do governo me incomodaram muito mais, não por eu defender um dos lados, mas pelo fato de o primeiro ministro tentar ainda convercer que “protesto não devem fazer parte da sociedade malasiana” e que a “sociedade malaia que se mantém quieta deveria levantar e mostrar que eles apoiam o governo”. Apesar de ter me surpreendido e MUITO o fato de ter visto malaios (mulçumanos) protestando do lado da opisição, acho bastante irrelavante o premier pedir para essa população se dizer insatisfeita, dado todos os benefícios que lhe são concedidos há muito tempo. E como se fossêmos à Brasilia e perguntassemos aos corruptos se eles estão insatisfeitos de receberem dinheiro roubado. No máximo vão dizer que gostariam de receber ainda mais!

Antes de terminar, deixo um vídeo, vergonha nacional de muitos malasianos que conheço, do Ministro da Informação, tentando defender o governo e ainda criticar a AlJazeera (TV islâmica) por não oprimir as notícias e “atacar” o governo, dado que eles são um canal islâmico!


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